De onde me chegam estas palavras?
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência.
Apenas o coração
pulsando a solidão antes de ti
quando o teu rosto doía no meu rosto e eu descobri as minhas mãos
sem as tuas
e os teus olhos não eram mais que o lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
E não havia um nome para a tua ausência.
Mas tu vieste.
De coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
Acendes todas as fogueiras.
Escreves todas as palavras.
Em canto de alegria desprende-se dos meus dedos
Quando toco o teu corpo e habito em ti
E a noite não existe
Porque as nossas bocas acendem na madrugada
Uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
Doem-se os braços de te abraçar,
Trago as mãos acesas,
A boca desfeita
E a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
O medo de perder-te é um cordel que pisa os meus cabelos
E se perde depois numa estrada deserta por onde
Caminhas nua
Como se estivesses triste.
Joaquim Pessoa (mas poderia ser eu, no feminino)
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Mão que me afaga! |
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